Voar
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VOAR
(2005)
- Silvano Brahma -
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Capítulo Um - Sonhar e Viver, Viver e Sonhar Voar
I - Nascer
Sinto-me apertado,
Esborrachado,
Esmagado sem saber onde;
Escuro, misterioso, obscuro,
Grotesco, estou fechado;
Mas... sinto-o:
Encarcerado,
Doloroso;
E abro os olhos
Para o escuro apagado;
Mas... abro-os...
Sinto-os e abri!
Sinto...
Que sou alguém
E quero viver:
Quero ser;
Deixar este nada,
Pois nada nao sou,
Porque sonho...
Sonho!
Quero viver...
Desejo...
Ser.
A ideia me ecoa
Enquanto penso...
Penso!
Sou realmente.
Mas nada vejo a frente...
Porquê?
Conformar?
Não...
Lutar.
Quero nascer,
Porque sinto, sonho e penso.
Sou alguém, que alguém quer ser.
E abro as mãos;
Estico os braços
Contra o nada que amolecendo, estica;
Com força,
Atiro contra a parede o meu sonho,
E o desejo intensifica;
As minhas unhas rasgam:
Como lâminas dilaceram;
O acroso líquido escorre por meus braços,
Mas quero ver
Porque os olhos abri!
E quero viver
Porque isso senti!
E rasgo!
Rasgo a corrente que me apertava!
A corda que me amarrava!
A coleira que me sufocava!
Frio, nu, desconhecido...
Apresento-me ao mundo que se abre;
Estico a mão...
Descerro os olhos para o céu:
E abre-se meu coração.
II - O Dia
Incrédulo,
Admiro o que se me apresenta;
Paraliso...
...
...sobre o céu...
..que vejo.
Lindo!
Não é negro.
Não é escuro.
Não o conhecia;
Mas agora o via!
Agora estava ali,
Agora sou alguém,
Agora vivo,
Porque há pouco eu nasci!
E nasci para este céu azul brilhante,
Para a luz radiante,
O calor que eu não sentia;
Mas agora...
Conheço a luz do dia.
III - O Céu
O céu é liso;
Azul, esbranquiçado.
É como um manto
Longínquo,
Que nos cobre,
Segura-nos cá dentro,
Protege-nos;
Mas deixa-nos livres:
Podemos olhar,
Esticar a mão e sentir;
Podemos sonhar,
Dar um salto,
E nele voar.
Tem nuvens
De água evaporada,
Outrora quente.
E nelas podemos nadar;
Nelas podemos viver,
Castelos fazer nascer;
Sobre elas podemos correr
E saltar;
Nelas podemos sorrir,
Banhos de Sol tomar.
Tudo podemos sentir;
No céu, podemos sonhar.
IV - Sol
O Sol ergue-se imponente,
Para lá do manto do céu.
Ele se faz sentir
Quente:
Sentimo-lo,
Podemo-lo agarrar,
Abraçar;
Mas ninguém o pode
Segurar.
Ele voa;
Ele sonha
Sobre as nuvens,
Com as nuvens;
Ele salta entre elas,
E sorri sempre:
Um sorriso que ofusca o olhar,
Um sorriso que não deixa chorar.
Sonha e assim vive
Todos os dias para sempre:
Corre sem nunca cansar.
V - Natureza
Levanto-me e olho em volta.
No nada, não sabia onde estava.
Mas acordei, e o nada já não é ninguém;
Porque à minha volta, vejo:
Sob o céu azul,
Vive verde
A Natureza,
A vida,
A beleza.
A relva amolece inocente
Sobre meus pés que a calca,
E ela sente.
As árvores erguem-se e me olham
Para baixo, me apontam,
Me denunciam, me lamentam:
Elas choram.
VI - As Árvores
As árvores, como me apercebo,
São os seres mais tristes que conheço.
Vivem todos os dias, durante anos
Para fazer os outros respirar,
Sem ninguém que lhes agradeça.
Vivem para fazer viver,
Presas no seu lugar.
É graças a elas que tudo corre:
Por causa delas os pássaros voam,
Sem elas, tudo morre.
Mas o Sol, do alto,
Inpropositadamente,
Aquece desejando o bem;
E quando aquece demais,
Não só sufoca os animais,
Mas aquece as árvores também;
E enquanto elas ardem,
Os animais fogem,
Os pássaros voam,
Mas elas não podem.
Sonham fugir,
Sonham correr...
Mas paralizam
Para os outros poderem viver;
E sem ninguém sequer parar,
Sem ninguém lhes agradecer,
Aguardam sem nada fazer:
Sobre elas não têem poder.
A morte injusta as assala,
E elas apenas a podem
Receber.
VII - Os Pássaros
Ouço o choro das árvores intensificado
Pelo incessante cantar dos pássaros,
Saltando de ramo em ramo;
Entre o mato da relva,
Eles buscam comida para si
E para seus filhos,
Que entregam no alto ninho;
Alegres, se chamam...
Conversam...
Juntos cantam
Uma sinfonia não ouvida noutro lugar,
Senão junto das aves:
Donas, e viajantes do ar.
VIII - Voar
Abre as asas...
Pernas em ponto de impulsão;
Olha para o cimo:
Lá estarás;
Respira fundo...
Estica as pernas...
Salta!
Voa...
Sobre a minha cabeça
Ele desliza;
Com a maior naturalidade,
Toda a facilidade.
Ele navega
Para cima, para baixo;
Dá a volta;
Dá espirais;
Torce as nuvens,
E sobe ainda mais!
Invejo-o.
Fixo-o.
Absorvo-o.
A minha alma engole
Essa capacidade de voar;
Minha alma ganha asas
Que sinto a esticar...
Sinto-as... a desejar.
E abro os braços;
Persigo-o com o meu olhar
E digo-lhe:
"Vou-te apanhar..."
"Vou também voar."
IX - Tento
Sigo-o.
Subo à árvore,
Aos ramos que estalam sob mim;
A casca arranha-me as mãos,
Como não arranha os pés dele,
Mas ignoro.
Puxo um ramo que se parte;
Estala com um estalar
Que ecoa até ao céu:
O som de uma árvore a gritar...
"Desculpa... mas preciso."
E continuo.
Sinto-me mais pesado...
Será da distância do chão?
Ou de minha consciência carregado?
Mas com força,
Subo ao ramo esticado...
Em baixo, o chão foge de mim,
Mas equilibro-me mesmo assim:
De pé, braços abertos,
Minhas asas sobem no ar...
Pernas em ponto de impulsão...
Respiro fundo...
E olho-o:
"Continuas a voar...
Continuas em círculos imperfeitos
A deslizar...
Mas é agora que te vou acompanhar..."
E salto!
Vejo o céu a descer!
Sinto-me a subir!
"Consegui! Estou a voar!"
O meu peso corre para longe:
Faço parte do ar!
E bato os braços, a flutuar...
Sorrio
Sob o Sol quente que me segura...
Mas...
Ele largou-me!
O céu foge...
O chão corre para mim,
E o pássaro continua a voar,
Enquanto eu estou a cair,
E o ar choca contra minha cara:
Frio se faz sentir,
Pois meu lugar não é no ar,
Mas na relva que me chama
E me olha desesperada:
"Não!"
Grita.
Mas eu desço...
De braços abertos,
E olhos fechados:
"Desculpa..."
Lhe respondo,
Antes de lhe cair tal corpo atirado;
Antes de a esmagar, inocente, por baixo;
Antes de a sentir, sob meu corpo pesado;
Estatelo-me:
E fico sobre ela deitado.
X - Pôr do Sol
Acordo com o Sol a adormecer:
Reviro-me, e sento-me.
Lamento:
"Desculpa..."
...Enquanto olho para baixo...
"...E obrigado."
Em frente, longe,
O Sol paira sobre a montanha;
Parece... mas não está parado.
Ele brilha laranja
Enquanto seu calor se extingue,
E as nuvens
De vermelho, laranja,
Roxo e rosa tinge.
Todos se despedem;
Já as saudades sentem;
Mas ele continua num aceno glorioso,
Um aceno sempre mais brilhante,
Enquanto o pico da montanha o espeta,
O corta,
O engole.
E assim fica tudo escurecido,
E as nuvens, apagadas ficam;
Mas o Sol não fica esquecido
Enquanto a noite nos possui,
E as estrelas ténues brilham.
XI - As Estrelas
Elas começam a pontilhar o céu;
Aqui e acolá, elas surgem.
Amigas do Sol,
Nos lembram dele:
Nos lembram que ele voltará.
Piscam...
Um piscar de olhos sorridente,
Enquanto nos olham de frente,
Sempre no seu lugar,
Mas sempre a andar;
Nada pára,
Neste dia que está a acabar.
Observo-as...
Também elas voam;
Sinto que sou o único
Impedido de voar;
Mas talvez seja apenas o único
A que é permitido sonhar.
Elas são diferentes,
Quando primeiro parecem iguais:
Algumas têm uma cor,
Outras têm mais,
E umas maiores que outras,
Mas todas são majestais.
XII - Nascer da Lua
Mas...
Do outro lado,
Oposto ao que o Sol desceu,
Uma luz clareia no céu;
O Sol não é,
Pois o céu escuro está...
Quem é que o está a acender?
Quem será... O que vai nascer?
Um ponto mais brilhante que qualquer estrela
Surge sobre a linha da montanha:
Sobe, arrastando consigo
Uma bola laranja...
Mas não laranja como o Sol...
Nesta vejo manchas,
Pontos escuros;
Não só das árvores
Que do topo da montanha a observam,
E á frente dela se postram,
Mas em si mesma:
Desenhos que não a fazem perfeita;
Apenas...
Linda.
E já toda no céu voa:
Magnifica Lua cheia;
Roda flutuando bela;
Toda ela de luz feita.
XIII - A Lua
Pasmo-me.
A sua luz
Ilumina a saliva que me escorre,
E que limpo com a mão.
A Lua vai-se acendendo de branca,
Mas amarelo-laranja está;
Ela sobe no ar
E dá-me mais desejo de voar!
Todos olham a sua luz bela,
Todos vêem graças a ela...
E o céu tinge-se esbranquiçado
Num círculo em volta dela.
"Quem a terá posto no ar?
Quem poderia... algo tão belo criar?"
As árvores não respondem,
E os pássaros se calam...
Apenas a admiram,
Apenas sentem as suas lágrimas:
Escorrem sobre si;
As árvores pintam-se de brancas
Com a tinta que as afoga,
A relva estica-se para chegar mais perto,
E os pássaros bebem sua luz
De bico aberto.
A Lua muda a noite:
Tudo pára,
Mas tudo enche de vida;
A Lua dá à noite
Uma sensação aquecida;
A Lua ainda mais que o Sol...
Nunca será esquecida.
XIV - A Noite Densa
Avanço em frente
Pelo meio das árvores vestidas de Lua,
Com os pássaros sobre elas adormecendo;
Grilos cantam:
Um áspero som redundante,
Alto, abundante...
Folhas agora, estalam sob meus pés,
Juntamente com ramos caídos estaladiços,
Num último suspiro de ambos
Após suas mortes.
O escuro apodera-se de novo de mim;
Mas é um escuro onde alguém mais existe...
As árvores parecem congeladas:
Apresentam-se frias,
Mas ainda fortes...
Mais ainda...
Assustam.
Gela-me também a respiração;
Caminho, lento...
Hesitante...
Parece outro mundo,
Outra dimensão;
O silêncio ecoa-me nos ouvidos,
Entre gritos de árvores caladas;
Ao longe, um mocho berra:
Minha alma fica assustada...
Corro!
Meus pés enterram-se em terra,
E a elevam ao ar;
Mais uma vez,
Sou o único que não pode voar!
Os grilos, as árvores, os gritos!
Esfaqueiam-me como chicotes...
Tapo os ouvidos em vão,
Pois ainda consigo ouvi-los!
Pelo mato denso me adentro:
Meu peito palpita
Como se tivesse dois corações;
As árvores me perseguem!
Os arbustos me cercam!
As silvas me agarram!
Os pássaros gritam para mim em volta:
Circulam-me como furacões!
Grito.
E abro os olhos...
Sinto a relva tenra,
Humida sob meus pés;
Em volta árvores já não há...
E os pássaros todos dormem...
A floresta ficou para trás;
E a Lua me olha, me sorri, e me diz:
"Afinal...
Querias tu voar,
Invejavas todos os que voam,
Mas esqueceste-te que és o único
Que pode sonhar."
XV - Adormecer
Deito-me aqui cansado:
Encolho-me
Sobre a relva deitado;
A Lua aconchega-me.
Puxo até ao pescoço
O lençol branco que ela me dá;
Fecho os olhos,
Num respirar a acalmar...
Liberto minha mente
De corpo quente:
Deixo-a ir,
Deixo-me subir:
Sob a Lua e as estrelas
Fico a sonhar,
Enquanto estou a dormir
XVI - Sonho
É azul.
Lembra o céu;
Mas não liga com terra alguma.
E vai mudando de cor:
Fica amarelo,
Vermelho;
E de branco se esfuma.
Ouço pássaros,
Mas não os vejo...
Pio.
Não há onde ir;
Não há onde pousar;
Mas bato de novo as asas...
Torço de novo estas nuvens...
Dou voltas e voltas...
Sempre a flutuar,
Sempre a cantar...
Sorrio,
Pois estou a voar.
(17 - 22 de Fevereiro de 2005)
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Capítulo Dois - Viver e Sentir, Feliz a Sorrir
XVII - Acordo
Quente...
Suave...
O Sol afaga-me o cabelo,
Com um "Bom dia" derramado.
As pálpebras pesam-me
Como pesava eu na árvore agarrado,
Mas liberto de novo meus olhos,
E bocejo.
Estico-me e contorço-me...
Gemo.
Lembro-me de outrora,
Quando do nada me libertara...
Mas agora
Acordo sobre esta relva,
Toda ela de verde pintada;
E minhas mãos agarram o ar...
O céu...
Tocam as núvens flutuantes
Deste belo azul véu
XVIII - Viajar
Levanto-me e caminho em frente;
Sigo, sem saber para onde.
Deixo que meus passos me guiem,
Sendo apenas o céu
Meu companheiro de viagem.
Caminho sem destino...
Apenas quero viajar,
Outras montanhas ver,
Outras árvores conhecer...
Em frente, a direito, continuar...
Até o céu sobre mim acabar.
XIX - Caminho
Olho as nuvens diferentes,
Mas são nuvens na mesma;
O céu muda o tom,
Mas é de azul igual;
As árvores crescem, caem, e pintam-se,
Mas são árvores tal e qual.
Viajo mas a Natureza acompanha-me,
Segue sempre a meu lado...
Qualquer que seja o caminho,
Sorrio, reflectindo o Sol em meus olhos,
Pois sei que nunca mais estarei sozinho.
XX - O Rio
Paro perante algo que se move;
Contorce-se... molda-se...
Corre... Grita!
Um rio que se me passa à frente.
Ele diz a cor do céu,
E fala a frescura do ar.
Ele chama-me para me refrescar;
Chama-me sua água a brilhar...
Pede-me para nele nadar,
E avanço.
Deixo para trás a relva,
Pois tem medo de se afogar...
Piso a areia que estala,
Até à água, que não se cala:
Fresca.
Envolve meus pés,
Aperta-me os joelhos;
Minhas pernas aprofundam-se nela;
O intenso crepitar me acalma;
Retrata o céu numa figura bela.
E mergulho nessa imagem molhada:
Numa nuvem... e nado nela.
XXI - Vento
A águe escorre sobre meu corpo molhado;
Mas sem pernas...
Nem asas...
Ela voa de mim.
Alguém as faz saltar...
Alguém as faz voar.
Saltam para minha frente,
Como lágrimas de um intenso chorar.
Olho para trás e vejo-o:
Enorme!
Envolvente...
Ele empurra-me o corpo,
Estica-me os cabelos...
Frio, sob o Sol quente.
O vento voa sempre,
Voa, e faz voar,
Pois vive sempre a soprar
Todos que lhe passam em frente;
Empurra-me,
Mas não me atira ao ar.
XXII - Pedra
Continuo para lugar que não sei;
Pelo caminho, ajuda-me o vento.
A relva embala-se num seu abraço,
As árvores dançam num ritmo lento,
Mas as pedras e rochas do chão
Não se movem.
Ficam, e não falam.
Empurro uma rocha:
Quero ajudá-la a andar;
Quero ser o vento,
E dar-lhe oportunudade de voar...
Então abraço-a!
Puxo-a...
Empurro-a...
Encosto-me e corro.
Canso-me, e junto dela morro;
O suor escorre-me pela testa,
E pinga em sua filha:
Uma pequena pedra caída
Junto da rocha nunca movida.
"Como te chamas?"
Ouve-me apenas o ar...
"Queres voar?"
Mas ela recusa-se a falar.
Então levanto-me,
E seguro-a na mão:
"Serei o vento..."
"E voarás longe do chão..."
Braço em ponto de impulsão...
Olho para o cimo...
"Lá estarás..."
Respiro fundo...
Estico o braço!
Abro a mão...
Voas...
Apercebo-me de que estou pelo chão,
Mas apesar de para mim
Não poder mais que pensar e sonhar,
Se sonhar com o coração,
Posso aos outros dar a mão,
E ajudar qualquer um a voar.
XXIII - Figura
Várias pedras habitam à volta.
Pergunto-me quantas delas,
Um dia sonharam voar;
Mas...
O Sol reflecte uma,
Com um mais intenso brilhar...
Uma figura sobre ela sentada:
Uma beleza para mim a chamar
Com uma luz,
Que dela vem
Emanada.
Paro paralisado.
Tem cabelo que o vento embrulha:
Escuro, comprido, ondulado,
Do topo se pendura;
Um corpo por baixo,
Belo, suave, delgado,
Por finos braços,
Pequenas mãos
Segurado
Á pedra sobre ela
Postrada
Sob suas pernas compridas, cruzadas,
Nascendo em cada ponta,
Um ténue pé dobrado.
XXIV - Sorriso
Ela vira-se...
Meu coração pára:
Cai no chão.
Meus braços pendem,
Pernas a fraquejar;
Minha saliva voa pelo ar...
E meu olhar...
Nada o poderia fechar
Perante esta bela visão que me atinge;
Esta figura que de beleza tinge
Tudo o que vejo, sinto e cheiro.
Ela mostra-me um novo momento:
O Sol não brilha, mas escuro não está;
A Lua dorme, pois a noite tardará;
Apenas ela ilumina,
Mais que tudo neste dia,
Mais que tudo o que um dia,
Sonhei que existiria.
Ela sorri.
Empurra-me lentamente...
Sinto seu abraço quente,
Apertar-se no meu peito;
Fraquejo todo...
Ferve-me o coração.
A luz se apaga, mas continuo a vê-la,
Pois minha mente captou
O belo sorriso dela,
E sorrio e não me aleijo,
Ao cair contra o chão.
XXV - Mulher
Delicada;
Carinhosa;
Aconchegante;
Suave...
A mão dela acorda-me:
É como viver onde a noite possui o Sol,
E acordar para uma outra vida
Onde é o sorriso dela que ilumina.
A visão mais bela que já tivera,
Tenho-a agora ao olhar para ela;
Ao abrir os olhos
Para o caloroso sorriso dela.
Os olhares prendem-se;
Puxam-nos...
Transformam-se em pedras.
Por momentos, vejo nela o vento,
E sinto que me faz voar,
Segurando-me com o seu olhar...
Mas aterro quando ouço sua voz:
Um suspiro de açucar respirado
Pelos seus tenros lábios soprado,
No mais belo som harmonizado:
"Estás bem?"
Padeço em pedra perante tal questão:
Mil e uma coisas sinto para dizer,
Mas aperta-se em tremores o meu coração...
E apenas um seco "Estou." consigo responder.
Fecho a boca para não pingar mais
Da saliva que logo engulo.
Ela aperta-me as mãos e puxa-me:
Levanta-me com um breve pulo.
Pergunto-lhe:
"Como te chamas, belo e divino ser?"
"Meu nome é curto e simples..."
"Chamo-me Mulher."
XXVI - Esfera de Luz
Sinto que agora,
Não mais andarei na escuridão.
Mesmo que o Sol se apague,
Que a Lua não nasca,
E as estrelas não pisquem...
Terei sempre o sorriso dela
A brilhar perante mim.
Medo não sentirei
Se me perseguirem os pássaros,
E gritarem as árvores,
E a escuridão de um bosque enraivecido
Se tentar adensar em mim:
Pois à minha volta mantenho uma Esfera de Luz:
Mais densa que qualquer escuridão,
Mais bela que qualquer Lua ou qualquer Sol,
Mais sorridente que qualquer sorriso;
Esta Esfera é a Mulher,
Que se liga a mim
Sempre que me agarra a mão.
XXVII - Juntos
O meu caminho é agora facilitado
Com a voz dela caminhando entre nós;
Andando, sorrindo, correndo e rindo,
Seguimos juntos, para algum lado:
Brincamos com o ar,
Corremos a saltar,
Perseguimos coelhos triumfantes,
E peixes navegantes...
Estou com ela, sinto-me bem:
Sorrir com ela faz-me sentir alguém;
Ela faz-me esquecer que em tempos não vivi,
Faz-me esquecer que em tempos não senti.
Agora só a quero agarrar...
Não a quero largar...
Encontrei-a:
E NUNCA a vou abandonar
XXVIII - Tempestade
Cinzento:
Assim vejo o céu agora.
A luz ilumina ainda o ar,
Logo, o Sol está ainda a brilhar...
Onde?
Perdi-o...
Voltará algum dia?
Ainda não sei...
Mas limpo a água que me escorre da testa,
E encharca o cabelo.
Estranho...
Onde me molhei?
Ah, vejo.
O céu entristeceu-se com a partida do Sol;
As nuvens precisam-no, a saltar entre si,
E então elas choram todas a soluçar,
E todas essas lágrimas
Caem mesmo aqui.
Elas abraçam-se e apertam-se,
Chocam, mas não se aleijam;
E o chão enche-se de lágrimas,
Sem sequer que elas vejam.
O vento que vem connosco,
Sopra-as de novo para o ar;
Mas pesadas que elas são,
Acabam por nos molhar...
E o seu sopro se sente frio,
Nesta luta desenfreada...
Aperto a mão de Mulher,
E corremos sobre a terra encharcada.
Para onde?
Para onde?
Onde corremos?
Para onde foi o Sol?
Perdidos...
No meio do nada.
Tudo nos assalta...
A chuva que é chorada,
Molha-nos da cabeça aos pés;
O vento que a sopra,
Gela-nos e trememos...
E a lama que no chão se forma,
Suja-nos enquanto corremos...
Mas encontramos por fim um lugar:
Um lugar onde ficar,
Onde secar,
Aquecer...
E agradecer;
Pois esta árvore,
Que vive para fazer viver,
Está aqui também para nos acolher;
E já que ninguém diz obrigado,
Somos nós, lado a lado,
Que a abraçamos, e profundamente,
Prontamo-nos a agradecer.
O chão está seco aqui:
A água corre por trás;
E o vento continua por ali,
Sem nunca desistir de tentar.
Mas nós, aqui cansados,
Encolhemo-nos, juntos...
Agarrados;
Na nossa esfera nos deitamos,
Onde não há frio, nem chuva,
Apenas o sorriso dela,
Enquanto me agarra a mão.
E fecho os olhos
Para dormir com ela,
Enquanto se aquece
Meu coração.
XXIX - Sonho
Vejo a chuva...
Mas não a sinto.
Não vejo o Sol,
Mas não sinto falta dele.
E vejo-a a Ela...
Minha bela Mulher...
Caminhando sozinha na tempestade.
Ela sorri, no entanto,
Enquanto o céu chora sobre ela;
Ela recebe-o...
Abraça-o...
É carinhosa,
Amável,
Divina.
Mas vejo ali também o vento:
Vem a correr para ela...
E vejo-o a olhar...
Como se a quisesse roubar.
Mas "Não!"
"Eu NUNCA vou deixar!"
Então ele começa a soprar...
Com força e mais força,
Sopra cada vez mais,
Enquando o ouço gritar:
"Vais voar..."
"Até às nuvens te vou levar..."
"E depois, vais voltar:"
"Tal lágrima a flutuar."
"Não!" - Grito.
Mas fico no meu lugar:
Fico enquanto a vejo...
A voar.
O vento sopra-a,
E ela faz parte do ar...
"Volta!" - Berro...
Mas não a ouço responder.
"Não me deixes na escuridão!"
"Agarra de novo minha mão!"
Mas as nuvens abraçam-na;
Engolem-na.
E chorando,
Vejo-a desaparecer.
(?? - 8 de Agosto de 2005)
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Capítulo Três - Feliz Amar, Triste Chorar, Feliz Morrer, Feliz Sonhar
XXX - Acordamos
Acordo com o coração pesado;
Calorosamente pesado...
A cabeça de Mulher sonhava sobre meu peito.
Fechei os olhos, tentando penetrar em seu sonho;
Estaria a sonhar com Ela e Eu?
Ou a Lua e as estrelas do céu?
Nada sabia,
Pois o sonho lhe pertence:
Só ela via.
Observo-a:
Seus olhos cerram sua alma,
E sua boca respira calma;
Um fio de saliva escorre-lhe,
E descubro algo mais em comum.
Sete cabelos finos
Enrolam num nó,
Sua testa e nariz enlaçados,
E as finas orelhas escutam-me
Enquanto sussuro "Bom dia...".
Aos meus olhos desperta a alma da minha,
E um sorriso responde-me com olhos semi-cerrados;
Encolhendo-se, aperta seu corpo contra o meu,
E em semi-sono, aproxima seus olhos de meus.
XXXI - Beijo
Sinto de novo a delicadeza de sua mão...
A suavidade desta pele...
Enquanto me afaga o rosto.
Em frente aos meus,
Uns belos lábios brilham,
Enquanto ela passa a língua;
E a saliva reflecte o Sol,
E transmite o aroma de sua doçura;
Uma fome se apodera de mim...
De a devorar...
Tomar...
Sentir.
Sim, sentir:
Beijar.
E num toque que me eleva aos céus,
Nosso lábios comprime-se:
Minha língua reflecte a dela,
E mistura-se em sua saliva;
Ela volta a ser o vento...
E leva-me ainda mais alto no céu,
Sem torcer as nuvens, nem rodopiar,
Subo e subo cada vez mais
Acima delas todas, do mundo...
E ainda acima dos céus,
Subo sem nunca parar;
Nossos olhos cerram-se juntos...
Nossa alma é uma só:
Uma só alma...
Uma nova vida...
Nós.
E envolta na boca dela,
Minha lingua fala com ela:
Diz-lhe o que sinto por ela...
Mas o quê?
Algo que arde..
Arde...
Como uma vela.
XXXI - Amar
É algo que se sente;
Mas não se vê.
Sentimo-lo a envolver-nos;
Mas não lhe conseguimos tocar.
Conseguimos provar, cheirar e ouvir;
Mas não conseguimos definir.
É sentir que não é mais preciso o Sol,
Porque nada brilha mais que Ela;
Não é mais preciso a Lua,
Pois Ela, mais que tudo, é bela;
Não é preciso mais a água,
Pois bebo da saliva dela;
E não é preciso mais o ar,
Pois respiro o seu beijar.
Não preciso mais nada:
Ela completa-me, faz-me feliz;
E é assim que defino
O significado de Amar.
(13 de Agosto de 2005)
XXXIII - O Mar
Continuando nosso caminho,
Ele acaba.
O chão desaparece,
E em frente surge outro céu:
Este céu estende-se até mais não ver,
E liga-se ao céu que eu já conhecia.
É também mais escuro,
E molda-se
E contorce-se...
E fala comigo.
Pergunto-lhe o nome,
E responde-me "Mar";
Sem dúvidas, apercebo-me
Que é ele o pai de todos,
Pois é maior que qualquer lugar.
Vemos nele golfinhos a saltar,
Baleias a nadar;
E mesmo aqui em baixo,
Lá no fundo,
Não pára de contra as rochas
Insistentemente se chocar;
O olhar é fresco,
E sinto-me a refrescar;
Olho e dá-me vontade de saltar:
Abrir os braços,
E sobre o azul...
Até ao céu voar.
(31 de Agosto de 2005)
XXXIV - Memória
Lembro-me...
De quando tentei voar.
Pernas em ponto de impulsão...
Respirei fundo...
Olhei o céu...
Lá estaria...
E saltei.
Lá estive...
Mas caí.
Lembro-me...
No chão embati;
Não sofri,
Mas imagino o que seria
Cair nestas rochas,
Ou pelo Mar engolido:
Não sobreviveria.
Ela é que não sabe...
E diz que quer voar;
Ela é que não sabe...
Que cairá no Mar;
Sem aparo...
Sem se poder segurar...
Numa morte certa
Mergulhar.
XXXV - Medo
Digo-lhe que não,
Mas ela sente vontade de voar;
Digo-lhe que vai cair,
Mas ela não quer acreditar;
Digo-lhe que vai morrer,
Mas ela quer na mesma tentar;
Meu coração aperta-se:
Não quero ficar só;
E tento agarrá-la,
Mas ela foge.
O sorriso dela ri-se inocente
Os olhos brilham sem saber
Que não mais irão ver,
E o corpo dela corre
Tão cheio de vida,
Como se para sempre fosse viver...
E persigo-a,
Enquanto corre para a falésia:
Pernas em ponto de corrida,
Ela olha em frente...
Suas asas sobem no ar...
Abre os braços,
Respira fundo...
Sorriso em ponto de vida,
E grita:
"Para o Céu... Para o Ar..."
"Para o Azul me vou tomar!"
E salta...
Enquanto meu coração,
Esmagado de medo,
Não pára de chorar...
E vejo-a a voar.
XXXVI - Inconsciente
É tão suave:
A forma como se movimenta...
Flutua, sem rasto deixar,
Voa em círculos...
Para cima, para baixo;
Dá a volta;
Dá espirais;
Torce as nuvens,
E sobe ainda mais!
Minha bela Mulher a voar...
Persigo-a.
Atrás dela,
Corro a voar;
Subo com Ela,
Longe pelo ar...
E sorrimos os dois...
Não importa o antes,
Nem se haverá algum depois...
Sorrimos por aqui estar:
Juntos, de mão dada...
Juntos a amar;
Eu um pássaro,
E Ela uma fada.
Mas o céu azul escurece...
Ela sorri...
Mas começa-se a apagar;
Sinto-me menos leve,
E não vejo as nuvens...
E a relva sob minha cabeça,
Acorda-me com um afagar
Que me devolve a consciência...
E abrindo os olhos,
Vejo a Lua sobre mim a brilhar.
XXXVII - Só
Sinto-me frio...
Sob a noite gélida;
Sinto-me só...
Nesta noite fria;
Mas pelo menos sei...
Que ela não caiu...
Sei que não falhou,
Sei que não sofreu,
Sei que conseguiu...
Sei que ela voôu.
(5 de Setembro de 2005)
XXXVIII - Pesadelo
Após o salto,
Ela continuou a sorrir...
Mas mesmo de braços abertos,
Não deixou de cair.
XXXIX - Choro
Pergunto-me quando o Sol irá nascer,
Pois a Lua já se deitou,
E não vejo estrela alguma;
ouço o Mar,
Mas não o vejo.
Atrás de mim esta Árvore segura-me:
Conversa comigo com voz de sono,
E digo-lhe para ir dormir;
(Não me sai da cabeça
A imagem dela a cair...)
Contei à Árvore,
Sobre a forma como ela voôu...
A Árvore disse-me para eu não chorar,
Pois também a Mulher não chorou...
Eu disse que chorou sim...
Chorou de tanto sorrir,
Chorou porque queria o ar;
Chorou porque conseguiu voar:
Chorou de conseguir.
A Árvore já adormeceu:
ouço o seu ressonar;
E em frente apenas vejo,
O que vejo, olhando em cima:
Um negro imenso intenso...
Escurecendo sem nunca acabar.
XXXX - Outrora
Quando Ela voôu...
Levou consigo toda e qualquer luz:
Levou o Sol e as estrelas,
E as nuvens brancas e a Lua...
E este mundo sem Ela
Lembra-me de outrora,
Quando do nada me libertara;
O escuro apodera-se de mim...
E é um escuro onde mais ninguém existe:
Olho em volta,
E não sei onde estou...
E olho de novo para cima...
Para o Céu...
É negro;
É escuro;
Reconheço-o.
XXXXI - Pesadelo
Quando cheguei à berma,
Atirei-me para o chão;
Deitado, ofegante...
Ignorei as pedras que arranhavam minhas mãos,
Enquanto olhei lá para baixo:
O Mar azul continuava a cantar...
As rochas continuavam a nadar...
O Céu azul continuava a brilhar...
Mas a minha Mulher...
Não a consegui encontrar.
XXXXII - Apagado
No chão negro,
Postrei-me de joelhos;
Sabia que o Sol
E as estrelas e a Lua,
Haviam de estar algures...
No escuro céu sem brilhar;
Sabia que haviam de ouvir,
E apontei para cima meus olhos...
Estiquei para cima meus braços...
E gritei a chorar:
"Sol, não te canses!
Não brilhes nunca mais...
Mesmo que tentes,
Não te vou ver;
Para mim, para sempre...
Negro tu vais ser!"
"Estrelas não brilhem!
Esqueçam-se de o Sol relembrar...
Pois tal como o não vejo,
A vocês não vou encontrar;
E dele nunca mais
Sua luz irei lembrar!"
"Lua bela e negra!
Branca não mais serás...
Deita-te e dorme para sempre,
Pois tu para mim,
Nunca mais acordarás!"
"O dia não vai voltar.
A noite está-se a apagar...
Tudo, para mim, acabou de morrer...
Tudo, para mim, vai desaparecer..."
XXXXIII - Tento
Penso que também consigo;
Se ela conseguiu,
Também eu vou voar.
Vi-a a voar para as nuvens...
Agora não as vejo,
Mas vou na mesma atrás dela:
Vou-a procurar.
Limpo algumas lágrimas e levanto-me;
Não vejo a berma a acabar,
Mas vou na mesma tentar...
De pé, braços abertos,
Minhas asas sobem no ar...
Pernas em ponto de corrida...
Respiro fundo...
E olho em frente:
(para o nada)
"Continuas a voar...
Mas continuo-te a amar
E sem ti,
Sozinho,
Não consigo cá ficar."
E corro!
Não sei para onde me dirijo,
Mas sinto o chão sobre meus pés,
E já vejo a berma que se aproxima...
Que se aproxima...
A berma...
O meu coração corre o dobro de mim:
É agora que vou voar!
A berma...
Está já ali...
Está já a chegar...
E eu não paro...
Não.
Não vou parar.
Eu vou tentar!
A berma...
Está ali...
Está aqui...
É agora:
Vou saltar.
XXXXIV - Quase Nada
O chão desaparece sobre mim;
Nada vejo por baixo...
Nada vejo ao lado...
Nada vejo...
Nada.
Estou no nada:
Estou a flutuar no escuro:
Nada à minha volta,
Nada por que viver,
Nada para cheirar,
Nada para sentir,
Nada para tocar,
Nada no céu a brilhar;
Mas apercebo-me do som...
Algo para ouvir;
Ouço-o a chamar...
Não estou completamente só:
Existe ainda alguém...
E esse alguém é
O Mar.
XXXXV - Sonhar
É quase como se estivesse no nada...
Apenas ouço o Mar,
E sinto-me a cair,
Não a flutuar;
Não sei porque não consegui...
Ou talvez seja isto voar,
Pois é a segunda vez que tento...
E a segunda que estou a falhar;
Ou talvez não seja possível voar!
Talvez seja possível...
Apenas sonhar;
Afinal, a sonhar conseguimos tudo!
Podemos até amar.
Ou talvez esse amor não seja um sonho...
Talvez nos possamos apenas apaixonar por um sonho;
E assim, o amor não é a sonhar,
Mas para aquilo que estamos a sonhar...
E depois de amar esse sonho,
Só nos resta tentar;
Às vezes podemos conseguir,
Mas muitas vezes vamos falhar...
Se sonhamos sempre assim tão alto...
Como é sonhar voar.
XXXXVI - Cair
Esbraçejo os braços e as pernas,
Mas sinto que nada me pode parar;
O ar frio engole a minha cara,
E com muito esforço,
Abro os olhos...
Já vejo o Mar;
Mas mais ainda...
Começo a pensar:
Fiz bem em tentar?
Pois estava escuro,
Eu chorava,
E nada via...
Mas agora...
Lá ao fundo,
Depois do Mar acabar...
Vejo o céu a clarear.
XXXXVII - Morro
O Sol vai voltar...
Tudo vai brilhar...
Tudo vai continuar a viver...
Mas aqui estou eu a cair;
Não sei se me arrepender,
Ou apenas tentar sorrir...
Nada posso fazer
Que me impeça de cair.
Lembro-me que do nada eu fugi...
Lembro-me de tudo conhecer...
Lembro-me de amar...
Lembro-me do que vivi...
Mas fecho os olhos,
E vou sonhar...
E assim sorrirei para sempre,
Pois nunca vou morrer:
Para sempre vou sonhar,
Para sempre vou viver...
Para sempre vou amar.
XXXXVIII - Sonhamos
Consigo sonhar sonhos belos:
Em minha mão,
Pousa a mão de minha Mulher;
Voando, olho para ela:
O Sol reflecte-se em seus olhos,
Brilha em seus cabelos...
Porque lembro-me da luz dele,
E do brilho dela;
E juntos, voamos relembrando tudo:
Lá em baixo vemos a relva
Que conversa com os pássaros,
E as árvores pensam que é com elas,
E abanam-se confusas para a chamar;
Outros pássaros voam.
Sobem à nuvens...
Conversam com elas...
Para cima, para baixo;
Dão a volta;
Dão espirais;
Torcem-nas,
E sobem ainda mais!
Em círculos imperfeitos,
Cercam-nos com sua melodia harmonizada,
E sorriem connosco
Numa dança improvisada;
O rio corre lá em baixo:
Vemos nele peixes a saltar,
Tartarugas a nadar,
E cavalos a beber;
E o rio
Com o grande Mar vai ter,
E este recebe-o bem:
Abraça-o,
E canta com ele;
Sorriem todos lá em baixo,
E sorriem todos cá em cima...
Nós os dois aqui a voar,
Os pássaros nas nuvens a nadar,
Enquanto estas continuam a flutuar,
E o Sol a brilhar,
Continua entre elas a saltar;
A Lua surge pálida lá no fundo,
Sob o Céu azul:
Ela voa, esbranquiçada;
Partilha o Céu com o Sol,
E a luz é dos dois,
Pois na Natureza todos se dão bem:
Vivem em harmonia,
Sem que se exclua alguém...
E é aqui que vou ficar:
Neste espaço repleto de vida,
Pois a Mulher ensinou-me a amar,
E depois ensinou-me a tentar,
De forma a conseguir...
Nunca vamos partir
Deste mundo que não pára de sorrir;
Já não podemos viver,
Mas recusamo-nos a morrer:
Vamos sonhar para sempre este sonho,
Pelo que foi a nossa vida;
Juntos, este Nós ficará:
Nem vida nem morte,
Nem outra coisa alguma...
Algum dia nos separará.
(12 de Setembro de 2005)
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